quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Arte e Mitologia

O artista é um ente especial. Ele dialoga com os deuses. Está claro que, para tanto, ele precisa dominar primeiro sua τέχνη (téchne). Mas isso não é o bastante. Precisa de um algo mais, que muitas vezes nem mesmo ele sabe precisar o que é. Exemplifico: Homero dominava eximiamente a metrificação das sílabas de um verso (téchne), mas afirmava precisar que as Musas lhe inspirassem o texto (centelha). O mesmo se dava com Hesíodo, que se julgava mero instrumento para a veiculação de verdades que lhe eram sopradas pelos deuses. Desde então, artistas, com maior ou menor consciência, referem-se a esse fazer quase mediúnico.

Esse processo criativo não é estranho à Mary Jô Orfanidis. Ele é o mesmo de Homero, de Hesíodo e de tantos outros artistas. Ela domina sua técnica, aprofunda-se no tema que escolheu para tratar, mas a execução da obra só ocorre depois que sua concepção é incorporada por sua ψυχή (psyché), a partir de algum ponto do cosmos, materializando-se, como por encanto, em um momento miraculoso.

Difícil explicar para o não-artista esse processo: a centelha pode ser o encontro do artista com algum detalhe, aparentemente insignificante, mas que ele intui ser importante para sua téchne, como catalisador do que sente e pensa, para que aquilo que está ainda em sua alma possa tomar forma e aparecer claro e perfeito na realidade.

O caminho para conseguir visualizar uma inspiração pode ser longo, envolver muita pesquisa, muito pensar, noites insones. Dou outro exemplo: Mary Jô Orfanidis levou muito tempo esperando pelo rosto de Afrodite, mas o rosto não vinha. Havia sempre um vácuo, em que a beleza do rosto da deusa tomava múltiplas formas. Era como que um caleidoscópio. Então o que faz Mary Jô Orfanidis? Em lugar do rosto de Afrodite, colocou um pequeno espelho, onde cada mulher, que se aproximar para ver o quadro de perto, poderá ver nele refletido seu próprio semblante.

Essa solução surgiu como por encanto e se impôs naturalmente. Revela também o tipo de espera da artista. Quando, de repente, a busca chega ao fim, Mary Jô Orfanidis experimenta uma sensação sublime. Vivencia o momento em que a centelha olímpica encontra-se com sua téchne. Não raro a artista, quase em transe, extravasa a alegria sentida nesses momentos com risos de júbilo incontido.

É aí que se inicia a outra vertente do processo. Trata-se da transposição daquilo que os deuses lhe inspiraram para o mundo real, por meio de sua téchne. E qual é a téchne dominada por Mary Jô Orfanidis.

A caminhada artística de Mary Jô Orfanidis é já bastante longa. Há muitos anos vem ela dialogando com uma variedade grande de materiais, domando-os, na difícil faina de exprimir o indizível. Hoje, como o poeta mato-grossense Manoel de Barros, que procura a poesia no recôndito do insignificante, Mary Jô Orfanidis busca encontrar beleza plástica nos materiais mais humildes de seu cotidiano. Pode tanto utilizar centenas de garrafas de plástico verde para compor a floresta de Ártemis, como um pedaço de tela metálica para prender Ares e Afrodite em eterno abraço, para escárnio dos demais deuses olímpicos.

Sem abrir mão do alto nível de exigência quanto à beleza plástica e rigor estético, o fazer artístico desta série de quadros de Mary Jô Orfanidis tem fins didáticos. Foi concebido dentro de um projeto destinado às crianças da periferia, filhos muitas vezes de mulheres abandonadas por seus maridos e companheiros, que se vêem obrigadas a educar suas proles sozinhas.

O objetivo do projeto é valorizar a figura e o trabalho dessas mulheres extraordinárias, cujo valor, na maior parte das vezes, não é reconhecido pela sociedade. Os próprios filhos podem, muitas vezes, chegar a sentir vergonha da condição humilde e de suas ocupações mal remuneradas. Buscando resgatar imagens, Mary Jô Orfanidis se propôs levar até elas arquétipos de mulheres, sintetizados em seis deusas olímpicas: Hera, Afrodite, Atená, Ártemis, Deméter e Perséfone. Caos é o único varão retratado. Com esses arquétipos, a artista procura mostrar que aquelas deusas, como suas irmãs mortais, também sofrem, são traídas por seus maridos e amantes, mas lutam e se impõem em seu quotidiano, sem medo de sentir medo, raiva, dor e, sobretudo, amor.

Ao mesmo tempo em que procura introduzir em suas vidas a vida fecunda daquelas deusas eternas e universais, Mary Jô Orfanidis acredita ser essencial mostrar, agora para as crianças, que se pode perfeitamente alcançar píncaros de criatividade, realização estética e, mesmo, de abstração, a partir de simples materiais do dia a dia.

Sua téchne está à altura do tema que a artista se propôs. Casada com um grego que nasceu em Nafplion e cresceu em Τίρυνς (Tírynthe), cidade citada já na Teogonia de Hesíodo (teog.,292), Mary Jô Orfanidis há muito tempo vem sendo exposta ao universo que expõe nesta série de quadros.

São doze obras de tamanhos, cromatismo, formas e ritmo diversos, mas que compõem um conjunto extremamente coeso e harmonioso. Não poderia ter sido a artista mais feliz na escolha do tema. Sua téchne, de altíssimo nível, encontrou alí fértil campo onde arar. Os deuses olímpicos fizeram o resto. Sorte dos que tiverem a oportunidade de fruir esta coleção de quadros do mais alto nível.

Heraldo Póvoas de Arruda
Brasília, 22/11/2007.


ARQUÉTIPOS

A mulher, que ser é este? Passam-se os anos e ela vai se transformando, e quanto maior o esforço para compreendê-la, mais difícil fica poder extrair uma conclusão definitiva sobre a mulher. Por ser mulher e artista, decidi me envolver num processo criativo apoiado por leituras diversas. Se não encontrei a resposta, o que li pelo menos favoreceu o meu imaginário, já rico em fantasias. De maneira tentativa, acredito que logrei abordar, por intermédio de minhas obras, a minha visão do feminino.

Descobri que nós mulheres, não somos uma, e sim muitas. Já criança, manifestamos a nossa personalidade sendo introvertidas ou extrovertidas. Se introvertidas, brincamos sozinhas, com nossos amigos imaginários ou com poucas companhias afins. Se extrovertidas, escolhemos brincadeiras coletivas ao ar livre com vários amigos. Ouvi, recentemente, por exemplo, o comentário de que a renomada poetisa goiana Cora Coralina, quando criança, gostava de brincar com as formigas no fundo do quintal. Para minha surpresa, esta era também uma de minhas brincadeiras favoritas quando criança.

Certamente essa brincadeira colaborou para desenvolver o meu potencial criativo, e também o dela. Cora Coralina publicou seu primeiro livro aos 75 anos de idade e em sua obra literária consta o poema “Todas as Vidas”, que descreve todas as mulheres que habitavam nela também.

Crescemos e sentimos a necessidade de transformar o nosso mundo imaginário em realidade, o que inclui, casamento, filhos, lar, carreira, dogmas, crenças, etc.

Essas transformações nos obrigam a buscar uma imagem que represente as nossas vivências, ricas em fantasias e emoções. Com minhas leituras, descobri que somos “fragmentadas” e que a cada passo que dou manifesta-se em mim um arquétipo dos eternos mitos femininos - as deusas gregas.

No momento da sedução, Afrodite me habita; para ter um contato direto com a natureza, Ártemis se manifesta; para dar o carinho maternal, Deméter se aproxima de mim; no mundo avernal Perséfone está comigo e, por fim, no mundo intelectualizado, Atená está firmemente estabelecida. Para unir todas as deusas, sou tomada pela força poderosa de Hera.

Os mitos femininos me impressionaram tanto que procurei expressá-los por intermédio de minhas experiências artísticas. Fui arrancando cada uma das deusas que coabitam em mim para que se manifestassem ao seu bel prazer.

Mitos femininos e mulheres são realidades para artistas, tais como Picasso, Dali, Modigliani, Gustav Klimt, Di Cavalcante e Cícero Dias.
Ao fazer uso dos mitos gregos por serem os mais conhecidos e utilizados nas obras de arte, procurei passar a preocupação com o papel da mulher e a sua importância na sociedade, como a grande-mãe ou a mãe-terra.

Na minha execução de Afrodite, encontra-se ela em dois momentos: no primeiro, ela nasce em meio às bolhas de “latinhas recicláveis”; no segundo, tendo um caso com Ares, deus da guerra. Eles estão cobertos por uma “malha de aço inoxidável” de utilização desconhecida, mas que ajudou a expressar a força de Afrodite.
Ártemis carrega uma bandeira verde e resiste às atrocidades cometidas contra a natureza. Ela se esconde numa floresta de “garrafas pets” e não faz cara de amizade quando se trata de defender a natureza. A perda das nascentes, o desmatamento e o consumo desenfreado faz com que moremos dentro de uma lixeira.

A execução de Deméter e Perséfone, mãe e filha, duas deusas que representam a semente e a terra cultivada, a necessidade de alimento, a terra-mãe, nasceu da retirada de uma árvore de eucalipto que por tantos anos viveu. Ao reaproveitar parte do invólucro daquilo que foi uma árvore, sua “casca”, entrei novamente em contato com essas duas forças, vida e morte, isto é, o ciclo da natureza.

A obra da deusa Atená também se apresenta em dois momentos: no primeiro, a deusa Atená se encontra numa cena doméstica atrás de uma janela, que é também um reaproveitamento; no segundo, por intermédio da mesa, Medusa, com reaproveitamento de parte de um “Carretel de madeira” de fios de alta tensão.

Hera, deusa do casamento, também se encontra numa cena doméstica, por trás de uma janela, objeto reaproveitado. Hera e Atená são alicerces de nossa estrutura social, a primeira representando o poder e a tradição; a outra, a civilização, a cultura e a educação.
Na concretização deste projeto artístico, meu pensamento estava voltado para esses maravilhosos mitos gregos femininos. Pensar que sou uma deusa em minha natureza feminina me enobrece de fato, pois esses mitos foram fartamente motivos de inspiração artística na História da Arte. Em algumas obras como, deusa Hera, Atená, Deméter, Perséfone, rememoro antiga técnica de pintura em vasos que contavam a história de deuses e heróis, o estilo de figura vermelha em fundo preto, que teve início por volta de 530 a.C.

Quem somos? De onde viemos? Essas eternas perguntas permeiam o imaginário humano. Em meu imaginário artístico posso afirmar que não cheguei a uma conclusão definitiva e mesmo buscando inspiração nos textos sobre cosmogonia, especificamente na Teogonia de Hesíodo (poeta grego do séc VIII a.C), cantada pelas musas-, apenas tento expressar esse primeiro sopro, o Caos. Imaginei Hesíodo embaixo de uma árvore, na companhia de suas ovelhas, sob o céu estrelado, ouvindo atentamente as musas cantando para ele o nascimento do cosmos.

Um nascimento requer transformação, aquilo que era uma matéria informe ganha vida. Se alguém tiver a chave que possa desvendar os mistérios, então abra a porta e nos ilumine!

Seja bem vindo!

Caos



Uma força misteriosa (daimon) fez a matéria informe abrir-se: nasce o Caos.
Engendrados nele, Érebo e Noite também se manifestam. Nos primórdios, o primeiro sopro...O nascimento do cosmos.


Etimologia: χάος (kháos) Caos, está evidentemente relacionado com o v. χαίνειν (khaínein), abrir-se, entreabrir-se. Deriva da raiz kha-, que significa fenda, abrimento, abertura, no sentido da abertura de uma fenda, como nos verbos khaino, khasco (abrir-se, entreabrir-se).

Sabe-se que, para os gregos, amantes da ordem, a idéia do nascimento do universo, ou cosmogonia, evoca a gênese das entidades primordiais – terra, água, ar e fogo.

Nem a idéia do nascimento do universo, nem a de um deus criador, podia provir do nada, pois o nada é impensável. Portanto, conceberam o Caos, algo já existente, massa rude e carente de estrutura, onde forças intrínsecas e latentes poderiam se organizar, produzir e perpetuar a vida. O Caos seria então uma matéria informe à espera de ser organizada.

A força que colocou ordem no Caos deixou nas entranhas da terra uma multiplicidade de poderes geradores, os quais engendraram todas as formas existentes no Universo.

Diversas foram as cosmogonias gregas: Cosmogonia de Homero, Cosmogonia de Hesíodo, Cosmogonia de Acusilau, Cosmogonias Órficas, Cosmogonia segundo Aristófanes, Cosmogonia de Deverni, Cosmogonia Rapsódica, Cosmogonia segundo Hierónymos e Hellanikos, Cosmogonia de Epiménidas, Cosmogonia de Ferécides.

As entidades primordiais são potências de engendramento – geram por cissiparidade e/ou por copulação. Destaca-se a cosmogonia de Hesíodo, em que o Caos nasce primeiro, e termina com a castração de Urano, filho e parceiro de Geia/Gaia, a segunda potência a nascer.

O Caos hesiódico é completamente estranho à idéia de um estado de desordem, em que todas as coisas se misturem e confundam em indiferenciação absoluta. Hesíodo não especula no vazio sobre o “antes da origem”. O abrimento lhe é suficiente. Caos engendra nas próprias profundezas Érebo e Noite (teog.,123).

O abrimento primordial (Caos) é incompreensível, profundamente obscuro. Abre-se obscuramente e, nessa abertura, a negra obscuridade do par Érebo/Noite encobre o surgimento primordial. O único atributo do Caos é deixar o mundo abrir-se. O mundo ordena-se porque Caos nasce. Érebo, o obscuro (termo masculino), e Noite, a negra (termo feminino), fazem mergulhar tudo o que já emergiu no tenebroso absoluto; trata-se de outra maneira de lembrar que o Cosmos é inconcebível antes da castração de Uranós.

Érebo é um nome antigo que designa trevas. Enterrar-se-á na sua natureza tenebrosa impermeável a qualquer luz, para significar a obscuridade do mundo subterrâneo no mundo constituído. Pairando sobre Érebo, a Noite poderá matizá-lo em sombra noturna. Mas faltará ainda a claridade pura (Éter), para que se projete a possibilidade da luz do dia (Heméra).

Cosmogonia de Hesíodo

CAOS

ÉREBO-NOITE

ÉTER-HEMÉRA

THÁNATOS


Mitos


Na Grécia, através dos mitos, das figuras imaginárias dos deuses, uma geração explicava à geração seguinte os porquês da vida. Muitos dos fenômenos ocorridos na natureza eram explicados por meio de mitos.

É por isso que deusas como Deméter e Perséfone ilustram tão bem a importância do culto a elas, pois estavam diretamente relacionadas com o nascimento e a morte na natureza, ou seja, com o grão e a colheita. Na Grécia as divindades paternas e maternas são preservadas. Zeus governa o Olimpo como pai celeste supremo; não obstante, consentia compartilhar seu monte sagrado, o Olimpo, com Atená, Apolo, Ártemis, Hermes, Deméter, Hefestos, Poseidon, Hestia, Afrodite e, claro, Hera.

De certo modo, na Grécia antiga havia pouca escolha para as mulheres: dona-de-casa, hetera ou escrava. Mas existiam vários cultos a deusas como Afrodite, Deméter e Atená. Esses cultos ofereciam inúmeras e ricas possibilidades para a vida intelectual e espiritual das mulheres.

Grandes templos em honra de Ártemis, em Éfeso, de Hera, em Samos, e de Afrodite, em Pafos, eram muito populares e muito freqüentados na antiguidade. Os mistérios de Deméter e Perséfone eram celebrados na pequena cidade de Eléusis, nos arredores de Atenas.


Arquétipos das Deusas

AFRODITE


Etimologia: Afrodite - Aφροδίτη = Vênus, que significa”adornada, envolta (da-na) espuma” e se diz assim, porque Vênus nasceu da espuma do mar. αφρός = aphrós (da r. aph= inchar,inflar; sair com ímpeto, com força)= espuma. + (δίτη= o nadador; do prim. δύτης = dites = nadador, o que nada). Aphrós deve interpretar-se, não por “espuma” e sim por “esperma”, o esperma de Urano mutilado no membro viril. Larousse vê provável alteração de Asforet, Aphtoret, variantes do semita Astarté.

Forma grega da deusa semítica (Astarté-Ishtar) da fecundidade, das águas fecundantes, do amor e rainha suprema do céu.

Na realidade, uma deusa de procedência oriental, pois já era venerada na Suméria/Babilônia por volta de 3000 a 1800 a. C. Afrodite é então uma variação dessa deusa.


Nascimento de Afrodite

Dos muitos filhos divinos de Gaia, a Mãe-terra, e Uranós, o Pai Celeste, nasceu Cronos, um de seus filhos mais jovens, que, como os demais, odiava o pai. (O mito diz que a esposa de Uranos era Gaia (a Terra) e que cada vez que Gaia tinha um filho, Uranós o devolvia ao ventre de Gaia. Cansada disso, Gaia tramou com seu filho Cronos. Ela fez de seu próprio seio uma pedra em forma de lâmina e a deu para Cronos.

Cronos esperou que Uranós, seu pai, dormisse e o castrou.) Por acaso, Cronos lançou o membro decepado por sobre os ombros, e este caiu em tormentoso mar e foi levado pelas ondas. Das gotas de sangue que caíram na terra brotaram as fúrias e os gigantes, e da espuma que se formou em torno do pênis decepado foi crescendo uma menina. Ela foi primeiro levada pelo mar até Cítera e depois para Chipre, sempre envolta pelas ondas. Lá ela aportou com seus dois companheiros, Eros (cujo nome significa amor) e Himeros (desejo). Quando tocou a terra firme, a relva brotou debaixo de seus pés. Seu nome, para os mortais, era Afrodite (nascida da espuma). Nasceu da espuma do mar misturada ao sêmen de Uranós.

Ares e Afrodite


Embora casada com Hefestos (o deus ferreiro, que ata e desata e cujas forjas situavam-se no monte Etna, na Sicília), Afrodite cedia seu leito a Ares nas prolongadas ausências de Hefestos. Ares fazia-o tranqüilo, porque sempre deixava à porta dos aposentos da deusa uma sentinela, um jovem chamado Aléctrion, que deveria avisá-lo da aproximação da luz do dia, isto é, do nascimento do Sol, conhecedor profundo de todas as mazelas deste mundo.

Um dia, porém, o incansável vigia dormiu e Helio, o Sol, que tudo vê e que não perde a hora, surpreendeu os amantes e avisou Hefestos. Este, deus que sabe atar e desatar, preparou uma rede mágica e prendeu o casal ao leito. Convocou os deuses para testemunharem o adultério e estes se divertiram tanto com a picante situação, que a abóbada celeste reboava suas gargalhadas.

Após insistentes pedidos de Poseidon, Hefestos consentiu em retirar a rede. Envergonhada, Afrodite fugiu para Chipre e Ares para a Trácia. Desses amores nasceram Fobos (o medo), Deimos (o terror) e Harmonia, que foi mais tarde mulher de Cadmo, rei de Tebas.


Mulher do tipo Afrodite

É regida pela deusa do amor, e está voltada principalmente para relacionamentos humanos, sexualidade, intriga, romance, beleza e inspiração das artes. Afrodite é antes de tudo uma deusa da vegetação, que precisa ser fecundada, seja qual for a origem da semente e a identidade do fecundador.

É uma divindade do prazer pelo prazer, do amor universal, que circula nas veias de todas as criaturas. É a deusa das “sementes”, da vegetação. É o símbolo das forças irrefreáveis da fecundidade, em função do desejo ardente que essas forças irresistíveis ateiam nas entranhas de todas as criaturas.

Representa o amor única e exclusivamente físico, traduzido no desejo e no prazer dos sentidos, nas forças irreprimíveis da fecundidade.


Símbolos relacionados

Na agricultura, simboliza a união dos quatro elementos, cujo casamento condiciona a fecundidade: a terra e o ar, a água e o calor.

O resultado da supressão da terra pelo ar é um novo nascimento vindo da água – Afrodite.

A concha de vieira é um de seus símbolos.

Hierodulas: prostitutas sagradas, sacerdotisas que se entregavam nos templos da deusa aos visitantes, com o fim, primeiro, de promover e efetuar a fertilização das mulheres e da terra e, depois, de arrecadar dinheiro para os templos. Se uma criança nascesse dessas uniões, pertenceria ao templo da deusa.


Relacionamentos de Afrodite

Casamento com Hefesto, o coxo, o deus dos nós, o deus ferreiro, na ilha de Limnos.

Amante de Ares, deus da guerra, de Adônis, deus da vegetação, do ciclo da semente que morre e ressuscita, de Aquiles, o herói troiano, de Hermes, de Dionísio, deus do êxtase e do entusiasmo, e amante de Zeus.


ATENÁ



Etimologia: Αθηνâ = Athenâ=Atená, da forma Αθεονόη =Atheonoe= “ a que conhece as coisas divinas”, (comp. de a =explet. ou prost. + θεός = τheós = deus + νόος, ou contr. νοûς = nóos ou contr. noûs = inteligência)= Atená ou Minerva; deusa da sabedoria e protetora de Atenas que foi consagrada.

De acordo com Junito Brandão é um antropônimo sem etimologia. O primeiro elemento da palavra ath poderia estar aparentado com o indo-europeu attã, “mãe”, forma grega awaiã, com o sentido igualmente de mãe; assim, Atená seria uma “Grande Mãe”, certamente originária de Creta.


Nascimento de Atená

Zeus engravida Métis, a Titã. Um oráculo de Creta profetizou que um menino iria depô-lo, se Métis tivesse uma filha e esta um filho; o neto arrebataria o poder supremo ao avô. Receoso, Zeus engoliu Métis.

Divindade da primeira geração divina, Métis foi a primeira esposa de Zeus e mãe de Atená. A palavra Métis está relacionada às sabedoria, prudência, astúcia, conhecimento exato, na medida.

A criança continua a crescer dentro de Zeus até que, por fim, o pai dos deuses veio a sofrer de dores de cabeça tão atrozes que convocou Hefesto, o ferreiro, para rachar-lhe o crânio com um machado. Com um grito de batalha selvagem, Atená saltou para fora do crânio de Zeus, inteiramente armada.

Seu nascimento foi um jorro de luz sobre o mundo, a aurora de um novo universo, uma visão apocalíptica. Atená brotou da fronte do pai lançando um grito tremendo. Ao ouvi-lo, Uranós estremece, como também a Terra-mãe, Gaia. Sua aparição determinou uma completa mudança na história do Cosmos e da humanidade. Uma chuva de neve de ouro espalhou-se sobre a cidade de seu nascimento; neve e ouro, pureza e riqueza provenientes do céu com dupla função: a de fecundar como a chuva, e a de iluminar como o sol.


A mulher do tipo Atená

É regida pela deusa da sabedoria e da civilização. Busca realização profissional, envolvendo-se com educação, cultura, justiça social e política.

É extrovertida, prática e inteligente, geralmente intimida os homens com seus discursos intelectualizados, mas, tendo conquistado o respeito de um homem, torna-se companheira leal. É um arquétipo feminino: pensa bem, mantém-se controlada no auge de uma situação emocional e elabora boas táticas em meio ao conflito. A palavra pode ser um poderoso instrumento, verdadeira arma de combate em profissões como direito, jornalismo, advocacia e política.

Atená é a protetora de lugares altos, acrópoles, palácios, cidades. Deusa polivalente, inspira as artes civis, agrícolas, domésticas, militares; inteligência ativa e industriosa.

É a deusa do equilíbrio interior, do comedimento. Preside as artes, a literatura, a filosofia, a música e toda e qualquer atividade do espírito.

É a personalidade divina que melhor exprime os aspectos mais característicos da civilização helênica, guerreira ou pacífica, mas sempre inteligente e ponderada, sem mistérios ou misticismos, sem ritos orgíacos ou bárbaros.

Atená é a deusa virgem de Atenas, motivo pelo qual seu templo gigantesco da Acrópole denomina-se até hoje Parthenón (virgem em grego).

Foi seu espírito inventivo que ideou o carro de guerra e a quadriga, bem como a construção da nau Argo, em que velejaram os heróis em busca do velocino de ouro.


Símbolos relacionados

Ela coloca sobre seu escudo a cabeça da Medusa, transformando-o assim em espelho da verdade, petrificando de horror os seus adversários, diante do reflexo da própria imagem.

O epíteto Pálas-Atena deve-se ao nome de uma jovem amiga da deusa, sua companheira na juventude, que foi morta acidentalmente por ela. Na disputa com Poseidon pelo domínio da Ática e, particularmente, de Atenas, Atená fez brotar da terra a oliveira, sendo, por isso mesmo, considerada a inventora do “óleo sagrado da azeitona”.

Dois de seus atributos configuram os termos da evolução de seu mito – de antiga Grande Mãe, proveniente de cultos ctônios (domínios da serpente) elevou-se, com o sincretismo creto-micênico, a uma posição dominante nos cultos urânios e olímpicos (domínios da coruja, símbolo da reflexão que domina as trevas).

A proteção concedida a heróis como Aquiles, Hércules, Perseu, Ulisses, simboliza a injeção de espírito na força bruta, com a conseqüente transformação da personalidade do herói.

Deusa da fecundidade, da vitória, da sabedoria, Atená simboliza mais que tudo a criação psíquica, a síntese por reflexão, a inteligência socializada.


Relacionamentos de Atená

Perseu e Hércules lhe são particularmente queridos, mas é a Ulisses, seu maior conselheiro (polymetis), que ela mais ama.

Atená é a leal, sempre presente e inspiradora companheira espiritual dos grandes heróis, instando-os à argúcia e aguçando-lhes a inteligência prática.


Mito da MEDUSA



Medusa era uma das três Górgones (Esteno, Euríale e Medusa), filhas de duas divindades marinhas, Fórcis e Ceto. Das três, só Medusa era mortal. As Górgones tinham, na cabeça, serpentes por cabelos, tinham presas pontiagudas como as do javali, mãos de bronze e asas de ouro, que lhes permitiam voar. Seus olhos eram flamejantes e o olhar, tão penetrante que transformava em pedra quem as encarasse. As Górgones eram temidas por homens e deuses. Perseu, herói grego, foi encarregado por Polidectes de lhe trazer a cabeça da Medusa.

Utilizando objetos mágicos emprestados pelos deuses – seu escudo de bronze, suas sandálias aladas – Perseu pairou acima dos três monstros. As Górgones dormiam profundamente. Sem poder olhar diretamente para a Medusa, o herói refletiu-lhe a cabeça no escudo e, com a espada que Hermes lhe dera, decapitou-a. Do pescoço ensangüentado saíram dois seres, Crisaor e Pégaso, engendrados por Poseidon, único deus que ousou aproximar-se da Medusa e fazê-la mãe.

A cabeça da Medusa foi colocada por Atená no centro de seu escudo. Assim, os inimigos da deusa eram transformados em pedra, se olhassem para ela. O sangue vertido pelo pescoço do monstro foi recolhido por Perseu, uma vez que esse sangue era detentor de propriedades mágicas: o que fluiu da veia esquerda era um veneno mortal, instantâneo; o da veia direita era um remédio capaz até mesmo de ressuscitar mortos. Além do mais, se apresentada a um exército invasor, uma só mecha da outrora lindíssima cabeleira da Medusa era bastante para pô-lo em fuga. Conta-se que Medusa, antes da metamorfose, era uma jovem lindíssima e muito orgulhosa de seus cabelos. Tendo, porém, ousado competir em beleza com Atená, esta eriçou-lhe a cabeleira com serpentes e transformou-a em Górgone.

Há uma variante: a deusa da inteligência teria punido a adversária, porque Poseidon, tendo-a raptado, violou-a dentro de um templo da própria Atená. As outras duas Górgones, Esteno e Euríale, surgiram certamente das duas outras cabeças de Gorgo, que era tricéfala. Medusa, Esteno e Euríale simbolizam o inimigo que se tem de combater.


ÁRTEMIS


Etimologia: Άρτεμις - Ártemis – nome grego da deusa Diana. Talvez de αρτεμής=artemés, inteiro,intacto (a deusa era virgem). Ainda,”são e salvo”, dada a proteção oferecida pela deusa aos que a cultuavam, Delg., p.116-117. Neste caso a irmã de Apolo significaria ”a protetora”. Drumond interpreta como ” perfeita, virgem ou lua”. Etimologicamente, a aproximação com άρκτος (arctos), “urso”, apresenta dificuldades e a que se faz com άρταμος (ártamos), “sanguinária”, isto é, “a que massacra”, mercê de suas flechas certeiras, deve ser de cunho popular.


Nascimento de Ártemis

Tendo nascido antes do irmão e ajudado a mãe nos trabalhos de parto, Ártemis ficou tão horrorizada com o que sofreu Leto, sua mãe, que pediu a seu pai Zeus o privilégio de permanecer para sempre virgem. Iconograficamente é representada com vestes curtas, pregueadas, com os joelhos descobertos, à maneira das jovens espartanas.

Além de caçadora é também uma guerreira ardente e ousada, com um arco e uma aljava cheia de setas temíveis e certeiras. É conhecida como “a sagitária do arco de ouro”. É leoa com as mulheres, causa-lhes mortes súbitas, sem dores e, não raro, rouba-lhes a vida no momento do parto. Pune à altura os atentados à sua pessoa.

É conhecida também como uma “divindade do ar livre”, que vive na natureza, percorrendo campos e florestas, no meio dos animais que neles habitam. Era tida como protetora das amazonas, também guerreiras e caçadoras, independentes do jugo do homem. Tem a corça como seu animal predileto.

Conclui-se que houve duas Ártemis: uma asiática, cruel, bárbara, sanguinária, bem dentro dos padrões da mentalidade religiosa de uma Grande Mãe oriental; outra, européia, cretense, ocidental, voltada para a fertilidade do solo e a fecundidade humana.

Ártemis estava estreitamente ligada a Hécate e a Selene, personificação antiga da lua. Ela foi identificada com a lua, em razão de suas fases.

Deusa quadriforme, deusa lua desdobrada em Selene (lua cheia), Ártemis (quarto crescente), Hécate (quarto minguante) e Lua nova, ou seja, Lua negra. Cada uma age de acordo com as circunstâncias, favorável ou desfavoravelmente. No quarto crescente e na cheia é normalmente boa, dadivosa e propícia; no quarto minguante e na nova é cruel, destruidora e malévola. Segundo Plutarco, no “quarto crescente é cheia de boas intenções, no quarto minguante traz doença e morte.” Os povos primitivos acreditavam que as mulheres eram dotadas de uma natureza semelhante à da lua, não somente porque elas “incham” como esta, mas porque têm um ciclo mensal de igual duração.

(Ártemis), a mãe do universo cósmico, possui natureza andrógina.


A mulher do tipo Ártemis

Regida pela deusa das selvas, ela é prática, atlética, aventureira; aprecia a cultura física, a solidão, a vida ao ar livre e os animais; dedica-se à proteção do meio ambiente, aos estilos de vida alternativos e às comunidades de mulheres.

Está ligada apenas superficialmente ao mundo civilizado: seu lugar são os campos e as florestas. Deusa dos lugares agrestes, habituada a caçar nas montanhas e a seguir o ritmo dos animais, em harmonia com os ciclos da lua, ela é prática.

O lado forte de uma mulher-Ártemis, que pode ser equivocadamente chamado de masculino, é seu amor intenso pela liberdade, pela independência, e pela autonomia – um amor que pode parecer agressividade, pois ela sempre lutará para preservar sua liberdade.

Ártemis dispõe duma energia indomável. Andrógina que é – ao mesmo tempo feminina e masculina – o verdadeiro relacionamento da mulher-Ártemis é consigo mesma. Ela deve encontrar seu próprio equilíbrio interior de masculinidade e feminilidade. Tende sempre a afastar os homens quando eles buscam sua intimidade.


Símbolos relacionados

Ártemis simboliza o aspecto ciumento, dominador e castrador da mãe. Com Afrodite, seu oposto, constitui o retrato integral da mulher, tão profundamente dividida em si mesma. As feras que a acompanham são os instintos que devem ser domados.


Relacionamentos de Ártemis

O relacionamento de Ártemis é consigo mesma.


DEMÉTER


Etimologia: Não possui etimologia definida; existe um composto: Δâ (Dâ) - Γâ (Gâ) - Γη (Guê) Terra e Μήτηρ (Méter) “Μãe”, significando, pois, Deméter a mãe da terra ou a Terra-Mãe. Nada prova, porém, que tenha existido no dialeto dórico um termo Γâ (Gâ) com sentido de terra.

Deméter: Filha de Cronos e de Réia, a deusa maternal da terra pertence à segunda geração dos deuses olímpicos. Distinta de Geia/Gaia, a terra concebida como elemento cosmogônico, Deméter é a divindade da terra cultivada.

Deusa essencialmente do trigo, seu culto era levado muito a sério por todos os gregos helênicos. Aconteceu de sua filha Core, também chamada Perséfone, ser raptada e, a partir daí, começou a dolorosa tarefa de percorrer o mundo inteiro à procura da filha.

No momento em que estava sendo arrastada para o abismo, Core dera um grito agudo e Deméter acorreu, mas não conseguiu vê-la, nem tampouco perceber o que havia acontecido. Simplesmente a filha desaparecera. Durante nove dias e nove noites, sem comer, sem beber, sem se banhar, a deusa errou pelo mundo. No décimo dia encontrou Hécate, que também ouvira o grito e viu que a jovem estava sendo arrastada para algum lugar, mas não lhe foi possível reconhecer o raptor, cuja cabeça estava cingida com as sombras da noite. Somente Helio (o sol), que tudo vê, cientificou-a da verdade.

Irritada com Hades e Zeus (seu tio Hades, que a desejava, raptou-a com o beneplácito e o auxílio de Zeus), decidiu não mais retornar ao Olimpo, mas permanecer na terra, abdicando de suas funções divinas até que lhe devolvessem a filha. Sob o aspecto de uma velha, dirigiu-se a Elêusis, onde foi convidada a cuidar de Demofonte, filho recém-nascido da rainha Metanira; a deusa aceitou a incumbência. Ao cuidar de Demofonte, a deusa passou a iniciá-lo, na tentativa de torná-lo um ser divino. A deusa não lhe dava leite, mas, após esfregá-lo com ambrosia, escondia-o no fogo durante a noite. A cada dia, o menino se tornava mais belo e parecido com um deus. Deméter realmente desejava torná-lo imortal e eternamente jovem. Metanira descobriu o rito iniciático e Deméter teve de deixar o palácio em sua forma divina. Antes solicitou que se lhe erguessem um grande templo com altar, onde ela pessoalmente ensinaria seus ritos aos seres humanos.

Construído o santuário, Deméter nele se recolheu, consumida pela saudade de Perséfone. Provocada por ela, uma seca terrível se abateu sobre a terra. Em vão Zeus lhe mandou mensageiros, pedindo-lhe que regressasse ao Olimpo. A deusa respondeu que não voltaria ao convívio dos imortais e tampouco permitiria que a vegetação crescesse, enquanto não lhe entregassem a filha. Como a ordem do mundo estivesse em perigo, Zeus pediu a seu irmão Hades que devolvesse Perséfone, o que foi feito. Perséfone passaria quatro meses com o esposo e oito com a mãe. Reencontrada a filha, Deméter retorna ao Olimpo e a terra cobre-se, instantaneamente, de verde.


A mulher do tipo Deméter

É regida pela deusa das colheitas; é uma verdadeira mãe-terra, que gosta de estar grávida, de amamentar e de cuidar de crianças. Está envolvida com todos os aspectos do nascimento e com os ciclos reprodutivos da mulher. É uma atitude, uma maneira instintiva de cuidar de tudo o que é pueril, pequeno, carente e indefeso. Constantemente se doa para os filhos, para o marido, para os amigos, ou para qualquer pessoa, parecendo nunca se cansar ou pensar em si mesma.

O que a mulher-Deméter busca é um marido digno e confiável para sustento seu e de seus filhos. Pode mostrar-se bastante ingênua no que concerne a trabalho e dinheiro para si mesma, preferindo deixar essa questão toda para seu companheiro.


Símbolos relacionados

Deméter é, pois, a Terra-Mãe, a matriz universal e, mais especificamente, a do grão, e sua filha Core, o grão mesmo do trigo, alimento e semente, que, escondida por certo tempo no seio da terra, dela rebrota em novos rebentos, o que, na região de Elêusis, fará da espiga o símbolo da imortalidade.

Fundamentalmente agrário, o culto de Deméter está vinculado ao ritmo das estações e ao ciclo da semeadura e da colheita para a produção do mais precioso dos cereais, o trigo.


PERSÉFONE


Etimologia: As formas mais comuns são: Φερσεφόνα (Phersephóna), Πηριφόνα (Perifóna), Πηρεφόνεια (Perephóneia), Φερσεπόνη (Phersepóne), Περσέφασσα (Perséphassa), além de outras.

Parece tratar-se de um composto da raiz παρ- (par), e de φόνη (phóne) como variante de θενος (thenos), donde Περσεφόνη (Persephóne). Perséfone seria uma espécie de derivado de παρθένος (parthénos) e significaria a “Virgem”.

Filha de Zeus e de Deméter, Core ou Perséfone crescia feliz entre as ninfas, em companhia de Ártemis e de Atená, quando um dia seu tio Hades, que a desejava, raptou-a com o beneplácito e o auxílio de Zeus.

O local varia muito de acordo com as tradições: o mais acertado seria dizer que foi na pradaria de Ena, na Sicília, embora o hino Homérico a Deméter fale vagamente da Planície de Misa, nome de cunho mítico, inteiramente desprovido de sentido geográfico.

Perséfone, distraída, colhia flores, e Zeus, para atraí-la, colocou um narciso ou um lírio às bordas de um abismo. Ao aproximar-se da flor, a terra se abriu, Hades apareceu e a conduziu para as entranhas do mundo ctônico [do grego χθóνιος (khthónios), "relativo à terra", "terreno" – refere-se aos deuses ou espíritos do mundo subterrâneo, por oposição às divindades olímpicas].Desde então começou Deméter a dolorosa tarefa de procurar a filha, percorrendo o mundo inteiro com um archote aceso em cada uma das mãos.

Quando Deméter ficou sabendo, através de Helio (o Sol), que Perséfone estava com Hades, o deus dos infernos, pediu-lhe que lhe fosse entregue a filha, pois não retornaria ao Olimpo nem permitiria que a vegetação crescesse, enquanto Perséfone não lhe fosse entregue. O rei dos infernos, a pedido de Zeus, curvou-se à vontade do irmão, mas habilmente fez que a esposa colocasse na boca uma semente de romã, símbolo da fertilidade, e obrigou-a a engoli-la, o que a impedia de deixar a vida com ele. Finalmente chegou-se a um consenso: Perséfone passaria quatro meses com o esposo no Hades e oito com a mãe no Olimpo e na terra, ou seis meses com cada um deles.


A mulher do tipo Perséfone

É regida pela deusa do mundo avernal; ela é mediúnica e atraída pelo mundo espiritual, pelo oculto, pelas experiências místicas e visionárias, e pelas questões ligadas à morte. As mulheres do tipo Perséfone geralmente não agem sozinhas, são sempre conduzidas pelos outros, não sabem o que querem nem para onde vão, fazem de tudo para agradar a mãe, pois têm uma ligação muito forte com esta.

A mulher-Perséfone é também uma espécie de mulher-criança, atrativa e ingênua. Geralmente é passiva, cautelosa, recatada e dependente. Quando em confronto ou acesso de raiva, tende a ser mentirosa e manipuladora. Se pessoas significativas projetam uma imagem ou expectativa nela, ela inicialmente não resiste. É seu padrão camaleão provar o que quer que os outros esperem dela. É eternamente filha.


Símbolos relacionados

A alternância das estações.


HERA



Etimologia: A hipótese mais provável seria considerá-la como da mesma família etimológica que ήρως (heros), herói, como designativo dos mortos divinizados, “os protetores” e, nesse caso, Hera significaria a Protetora, a Guardiã. A base seria o indo-europeu “serua”, da raiz ser-, “guardar, proteger”, donde o latim seruare, “conservar, velar sobre, ser útil”. É bem possível que tanto ήρως (heros) como Ήρα (Hera) tenham origem pré-helênica.

A mais importante e poderosa de todas as deusas olímpicas, Hera era a filha mais velha de Cronos e Réia. Como todas as suas irmãs e irmãos, exceto Zeus, foi engolida por Cronos, mas salva pelo embuste de Métis e pelas lutas vitoriosas de seu futuro esposo.

Hera foi entregue aos cuidados de Oceano e Tétis, que a criaram nas extremidades do mundo, ganhando para sempre a gratidão da filha de Cronos. Zeus a desposou, em núpcias soleníssimas. Foi a terceira esposa (a primeira foi Métis e a segunda, Têmis). Conta-se que Zeus e Hera se amavam havia muito tempo e que se haviam unido secretamente, quando o deus Cronos ainda reinava sobre os titãs.

Como legítima esposa do pai dos deuses e dos homens, Hera é a protetora das esposas, do amor legítimo. A deusa, no entanto, sempre foi retratada como ciumenta, vingativa e violenta. Continuamente irritada contra o marido, por suas infidelidades, moveu perseguição tenaz contra suas amantes e seus filhos adulterinos. Para escapar da vigilância atenta de Hera, Zeus não só se transformava de todas as maneiras, em cisne, em touro, em chuva de ouro, no marido da mulher amada, mas ainda disfarçava a quem desejava poupar da ira da mulher.

Pelo fato de ser esposa de Zeus, Hera possui alguns atributos soberanos, que a distinguem das outras imortais, suas irmãs. Como seu divino esposo exerce uma ação poderosa sobre fenômenos celestes, ela pode desencadear tempestades e comandar os astros que adornam a abóbada celeste.

A união de Zeus e Hera é como um símbolo da natureza inteira. É por intermédio de ambos, do calor dos raios do sol e das chuvas, que penetram o solo, que a terra é fecundada e se reveste de luxuriante vegetação. Ainda como Zeus, Hera personifica certos atributos morais, como o poder, a justiça, a bondade. Protetora inconteste dos amores legítimos, é o símbolo da fidelidade conjugal. Associada à soberania de Zeus, é respeitada no Olimpo inteiro, que a saúda como sua rainha e senhora.

É verdade que, por vezes, uma rainha irascível e altiva, mas que jamais deixou de ser, em seus rompantes ou em sua majestade serena, a grande divindade feminina do Olimpo grego, cujo grande deus masculino era Zeus.


A mulher do tipo Hera

É regida pela deusa dos céus; ela se ocupa do casamento, da convivência com o homem e, sempre que as mulheres são líderes ou governantes, de questões ligadas ao poder.


Símbolos relacionados

Sua ave predileta era o pavão e eram-lhe também consagrados o lírio (símbolo de pureza) e a romã (símbolo de fecundidade).


Contrastes e pontos comuns: As Díades de Deusas

Ártemis - Atená
(díade da independência)

Tendo de um lado a deusa das selvas e, de outro, a deusa da civilização, esta díade apresenta um forte contraste. Porém, as duas partilham importantes qualidades comuns: ambas portam armas à maneira masculina dos guerreiros, e nenhuma tem companheiro ou amante homem.

São independentes, ambas têm temperamento mais propenso a viver e trabalhar em solidão do que ao lado de um companheiro. Quando casadas precisam de um estilo de relacionamento muito independente, sem grilhões.

No mundo antigo elas eram deusas virgens, o que significava não casadas.

Nas relações sociais, Atená é extrovertida e gosta de atuar como parte de um grupo de colegas. Ártemis é mais introvertida, preferindo trabalhar sozinha ou com uma ou duas amizades íntimas.


Hera - Perséfone
(díade do Poder)

Diferença mais extrema é o modo como as duas se relacionam com o mundo interior e o mundo exterior. Hera é extrovertida, prefere ocupar-se do mundo externo, enquanto Perséfone, introvertida, rejeita o mundo exterior em favor do espaço psíquico interior dos espíritos. Entretanto, como rainhas dos céus e do mundo avernal, ambas almejam controlar seus respectivos mundos. Têm visões de mundo diferentes.

O ego de Hera é extremamente forte; já o de Perséfone é frágil. É difícil para as duas se apreciarem e se entenderem. Hera muitas vezes precisa voltar-se para dentro, e Perséfone, sair da casca.


Deméter - Afrodite
(díade do amor)

Ambas estão voltadas para o amor de maneiras diferentes. Há nelas um contraste sutil no modo como expressam o amor e como vivenciam o próprio corpo. Deméter reserva seu amor para os filhos, contendo em si mesma, com abnegação e generosidade, todos aqueles a quem ama espiritualmente. Afrodite dá sustento espiritual e físico, mas não pretende conter em si nem proteger maternalmente aqueles a quem ama; o que ela oferece aos seres amados é sua plena maturidade e diversidade. Ela ama o adulto, não a criança.

O estilo de Deméter amar é mais introvertido, trazendo aqueles a quem ama sempre no coração, não importa onde estejam, ao passo que Afrodite, extrovertida, só se sente plena com a presença física daqueles a quem ama.

Para Deméter, o corpo é um receptáculo sagrado; para Afrodite, um objeto sagrado de amor, uma coisa de beleza.

Muitas vezes, é difícil para uma mulher-Afrodite apreciar plenamente sua primeira gravidez, ou para a mulher-Deméter apreciar inteiramente a estética de seu corpo, pois cada uma vivencia e trata o corpo e suas funções de maneiras radicalmente diferentes.


As deusas e seus complementos masculinos: o animus

Cada deusa mantém um relacionamento distinto com o masculino.

Hera e Perséfone têm maridos ou consortes que, idealmente, sugerem algum tipo de divisão eqüitativa de poder. Afrodite e Deméter mantêm relações diferenciadas mais pelo estilo de amar. Afrodite admira a virilidade em um homem. Deméter não se interessa particularmente pela sexualidade. Ártemis e Atená, que não têm relacionamentos conjugais ou íntimos constantes, ambas ostentam qualidades masculinas na mulher caçadora e na mulher guerreira.

O equivalente masculino das deusas é aqui chamado animus, o termo usado por Jung para denotar o elemento masculino existente na psique de toda mulher e que determina como ela será atraída ou repelida por determinados tipos de homens.


Atená

Relaciona-se com homens heróicos, companheiros de armas, com quem possa compartilhar ideais, ambições, metas profissionais e lutas intelectuais (adversários amigáveis).

Atená não irá necessariamente casar-se com um homem assim, preferindo talvez mantê-lo como amizade íntima e duradoura. Mas ela é atraída por figuras paternas. Os dois principais animus que lhe correspondem são, portanto, o herói companheiro e o pai.


Afrodite

Admira a virilidade em um homem. Ela cativa e se serve do poder fálico do homem que se mostrar amante ou guerreiro. Admira ainda o sucesso e o espírito de combate em seus homens, mas, ao contrário de Atená, não tem grande interesse em lutar ao lado deles. Ela se sente feliz com relacionamentos múltiplos ou com casos extraconjugais, mas irá casar-se (e divorciar-se) conforme lhe aprouver ou lhe for conveniente. Também atrai homens criativos e geralmente age como patrona ou inspiradora das obras artísticas destes.


Perséfone

Fascina-se mais pelo espírito do que por homens encarnados, e freqüentemente, terá guias espirituais do sexo masculino em suas práticas místicas ou mediúnicas. Seu envolvimento profundo e fatalista com os aspectos mais obscuros da vida significa que irá inadvertidamente atrair homens destrutivos, senhores das trevas, chegando às vezes a casar-se com eles, com resultados desastrosos. A fim de proteger-se disso, costuma optar por uma alternativa segura, porém insatisfatória: homens mais jovens, mais brandos e não ameaçadores, com o lado masculino pouco desenvolvido, de quem poderá cuidar maternalmente e manipular sem medo. O animus correspondente é o filho amante.


Ártemis

Em sua independência, já possui tanta energia masculina integrada à estrutura da personalidade, que não tem necessidade de um homem que a complemente. Ainda assim, ela, como Atená, aprecia um homem companheiro que trabalhe a seu lado nas coisas práticas da vida. O casamento não é, via de regra, algo que busque, mas será tolerado se sua liberdade for respeitada. A sexualidade ficará muitas vezes encoberta e, como ela pode ser bastante acanhada, apreciará reserva e modéstia em um homem.

Seu animus correspondente poderia ser descrito como amigo, companheiro, irmão.


Deméter

Não se interessa particularmente pela sexualidade ou pelos relacionamentos intelectuais, mas precisa de alguém que saiba trazer para casa o leite das crianças; seu companheiro deve ser um pai-terra, forte e confiável. Porém, como possui uma energia material muito abundante, sentirá a irresistível tendência de cuidar maternalmente de todos os homens à sua volta, não importando a idade deles, transformando-os em filhos para idealizá-los como heróis. Seu animus poderia ser descrito como filho herói.


Hera

Quer que seu homem seja sócio e companheiro, e, de preferência, que divida eqüitativamente o poder com ela. Ela só quer homens fortes e bem-sucedidos, que sejam líderes ou, se possível, governantes, como Zeus, seu marido mítico. Companheirismo, a seu ver, significa casamento, de modo que geralmente ela só se relacionará intimamente com um homem, seu marido, sendo nisso basicamente monogâmica. Ela sempre tenderá a casar-se com um homem poderoso e de prestígio social, pois quer transmitir o bom nome do marido para seus filhos. Como se sente atraída pela energia masculina de governança, tenderá a querer dirigir alguma instituição ou tornar-se matriarca da família.


Agradecimentos

Agradeço aos amigos e a todos que colaboraram doando ou fazendo a captação de materiais como: 156 garrafas pets, que em sua totalidade foram reaproveitadas, e 137 latinhas de alumínio. Esses materiais reaproveitados foram imprescindíveis na execução das obras aqui apresentadas. À amiga Maricin Rojas que, além de ter feito captação de material, é companheira em constantes passeios em Galerias de Arte de Brasília (passeios que acabam sendo um laboratório muito útil no reconhecimento de artistas, suas obras e materiais utilizados).

Ao amigo Aristos João Rodopoulos, que carinhosamente abriu-me as portas de sua casa para que eu pudesse, a partir de sua coleção de vasos em estilo “figura vermelha”, tomar conhecimento do “tom” vermelho da cerâmica e ter um contato mais direto com a arte daquele período.

Ao Ioannis Sakatzis, grego, residente em Atenas, que não mediu esforços e trouxe, ele mesmo, elementos naturais da Grécia: Terra da região de Pniks, onde se acredita ter nascido a democracia, numa colina em forma de semicírculo, em Atenas. Água, da fonte de um monastério chamado Kessariani, em Atenas. Folhas de oliveira, provindas de uma antiga oliveira que se encontra no monte Imitós, em Atenas, a 500 metros do monastério Kessariani.

Com esses materiais, executei obras com o objetivo de ilustrar e aproximar o mito da realidade.

Agradeço imensamente o apoio dos amigos que acompanharam de perto o nascimento de cada obra, cuja opinião e sugestões foram muito importantes e também um grande estímulo.

João Maurício Cabral de Mello, que participou ativamente com sugestões mais objetivas na composição do texto Arquétipos e opinando nas escolhas dos primeiros estudos para a execução das deusas.

Heraldo Póvoas de Arruda, que acompanhou todos os passos deste trabalho, desde quando este ainda era um projeto arquivado por duas vezes na Secretaria de Cultura, e que agora de coração aberto faz a minha apresentação como artista.

É claro que não poderei deixar de agradecer a Alexandre Orfanidis, companheiro de todas as horas, que de modo integral ajudou, patrocinou e continua apoiando as minhas inspirações artísticas.


Prezado leitor, as obras expostas ainda não foram apresentadas em nenhuma Galeria de Arte. Preferiu a Artista, Mary Jô Orfanidis, apresentá-las com exclusividade para os leitores deste blog.

Estão se fazendo contatos com Galerias de Arte para propiciar uma integração direta das obras com o espectador. Pretende a artista fazer Exposições denominadas "Arquétipos – o Giro das Deusas". Logo que possível, a Artista avisará por meio deste blog a data e o local das exposições. Durante e após as mostras em Galerias, as obras estarão à venda. Os contatos poderão ser feitos pessoalmente ou através de e-mails, quando ficarão disponíveis informações mais detalhadas das obras, procedimento de venda e tabela de valores. A artista pretende fazer três exposições, após a última das quais as obras poderão ser adquiridas definitivamente pelo interessado.

contato: mjodeusas@gmail.com


Referências Bibliográficas

As Cosmogonias Gregas - Reynal Sorel

Teogonia – A Origem dos Deuses – Hesíodo - Estudo e Tradução - Jaa Torrano

Hesíodo -Teogonia - 2ª edição – Edição em língua portuguesa, comentada por Ana Lúcia Silveira Cerqueira (Professora Adjunta de Literatura Latina e Literatura
Grega da UFF) e Maria Therezinha Áreas Lyra (Professora Titular de Literatura Francesa da UFF).

Mitologia - Abril Cultural

História dos Gregos - Indro Montanelli

História da Beleza – Organização de Humberto Eco

História da Arte- E.H.Gombrich

Arte Comentada – Da Pré-História ao Pós-Moderno – Carol Strickland, Ph.D.

Coleção Folha – Grandes Mestres da Pintura.

A Deusa Interior – Jennifer Barker Woolger e Roger J. Woolger.

Dicionário de Símbolos – Jean Chevsalier e Alain Gheerbrant

Dicionário Mítico-Etimológico – Junito Brandão

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

Diccionário de Raices Griegas y Latinas y de Otros Oriígenes Del Idioma Español

Por Lisandro Sandoval.

Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa – Tomo II (nomes próprios) – Antenor Nascentes

SITES VISITADOS:
www.recicloteca.org.br
www.cempre.org.br
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www.dicavalcante.com.br
www.geocities.com/textossbec/torres.doc
www.wikipedia.org
www.rubedo.psc.br/secao/artemito.htm


As transcrições literárias foram revisadas por Ismar Pereira – tradutor e revisor.

e-mail: ismarpf@yahoo.com.br
+55(61)99815180

E os termos gregos apresentados foram revisados por Alexandre Orfanidis Professor autônomo de língua grega moderna, clássica e koiné.

Αλέξανδρος Ορφανίδης – Μεταφραστής/ Ελληνο-Βραζιλιάνικα.

e-mail: amjorfanidis2@yahoo.com.br
+ 55(61)91027958